
O Escopo do Currículo Escolar na
Concepção de Lutero
(Reflexão alusiva aos 500 Anos da Reforma Luterana)
Tito Livio Lermen
CEE/SC
31 de Outubro de 2017
Um projeto educacional a ser implementado em uma escola, concebido a partir de pressupostos previstos por Lutero, tem por escopo a educação física e a consequente prática de esportes, áreas e ambientes reservados para o exercício da criatividade, com salas para artes plásticas, dança, canto, teatro, música e a ênfase no ensino de línguas. Um espaço assim planejado assegura a expressão da corporeidade, do exercício da ludicidade e da criatividade.
Dentre as dimensões, as quais Lutero se refere quando fala sobre a forma de ensinar a viver, destacaria aquelas que convergem com a BNCC e o Novo Ensino Médio.
Educação para a Liberdade – Educação, para Lutero, consiste em ensinar a viver a mensagem do Amor, da Esperança e da Fé, bem como ensinar a viver os princípios que decorrem desta mensagem. Acrescenta ainda que não se pode coagir ninguém à fé, uma vez que qualquer ensino deve respeitar o outro como sujeito do seu processo.
Educação Permanente – Nunca estamos formados, somos seres em contínua formação. O trabalho educacional considera o binômio, Amor e Liberdade, tendo como ponto de chegada a Sabedoria. Como resultado do esforço educacional, as pessoas são desafiadas a constituir uma sociedade solidária, com igualdade e justiça para todos, onde se administra os conflitos, pelo diálogo e a negociação. Ao educar para a liberdade será necessário reconquistar a tradição, para então criar algo novo, encontrar na educação uma relação a um tempo de equilíbrio e de tensão entre recuperar o passado e criar o futuro. Como seres humanos, individual ou coletivamente, ainda não somos tudo a que somos chamados a ser. Vivemos no provisório. Desinstalando, gerando novas indagações e questionamentos sobre a realidade, parece ser inerente a uma dinâmica de fazer educação. O ser humano vive em uma dimensão dialética entre o passado e o presente, entre o antigo e o novo. A Sabedoria está na capacidade de buscar o que é válido, tanto para o antigo, quanto para o novo. Lutero deixou, na sua trajetória de vida, seja pessoal ou profissionalmente em suas obras, marcas de transição. Neste sentido, ele sempre apontou para o futuro, ou seja, para o novo que está emergindo.
Conteúdo com Sentido e Significado – Lutero propõe a adoção de um método que tenha como base o conteúdo com sentido e significado para a pessoa e a vida, enfatizando a leitura e a experiência. Propõe ainda que o jogo e a atividade criativa necessitam integrar o processo pedagógico.
Modalidade Lúdica – Lutero, na verdade, não propõe nenhum modelo de escola, todavia apoiou a transformação do sistema rígido, em voga na época, para uma modalidade mais lúdica.
O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano. Faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana. São ações vividas e sentidas. Na atividade lúdica importa a própria ação, momentos de encontro consigo mesmo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, momentos de re-significação e percepção, momento de autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar para o outro, momentos de vida.
“Em uma sala de aula, ludicamente inspirada, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável; o professor renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a importância de que o aluno tem uma postura ativa nas situações de ensino, sendo sujeito de sua aprendizagem; a espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas.” (Almeida, p. 03)
“A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade... o desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento” (Almeida, p. 04).
É preciso saber trabalhar com o(a) aluno(a) para que ele(ela) tenha prazer em aprender. Conteúdos estes despertados pelo prazer de querer saber e conhecer. Despertá-los para, com sabedoria, poder exteriorizá-los em sua vida. Afinal, a alegria, a fé, a paz, a beleza e o prazer estão dentro de cada um (a).
Há 500 anos já se propugnava por uma educação escolar que assegurasse o protagonismo do próprio aluno, no processo formativo e para a liberdade, bem como a existência de espaços para o exercício da corporeidade, da criatividade e da ludicidade.
Epistemologicamente dir-se-ia que não existe consciência, linguagem, inteligência, antes da ação do sujeito. Isto é fundamental, a nível metodológico e, por isto, é preciso estimular o aluno a agir, a operar, a criar, a construir, superando a repetição, a cópia, a memorização. Concluo com as palavras de Rubem Alves (2006 , p. 86-87) quando diz que,
“A esperança vê o que não existe no presente, existe só no futuro, na imaginação. A imaginação é o lugar onde as coisas que não existe, existem. Este é o mistério da alma humana: somos ajudados pelo que não existe, quando temos esperança, o futuro se apossa dos nossos corpos. E dançamos. O poeta que escreveu essses poemas estava embriagado de esperança. E quem é possuído pela esperança fica grávido de futuros... Aqueles que ouvem a melodia do futuro plantam árvores em cuja sombra nunca se assentarão, mas não importa. Eles se alegram imaginando que as crianças amarrarão balanços em seus galhos..."